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Whatsapp: descubra a história única do aplicativo mais popular do mundo
A startup que construiu um império apenas com alguns engenheiros e uma paixão inesgotável pelo produto,
Quantas vezes você já usou o WhatsApp hoje? Com certeza, inúmeras.
Para nós, brasileiros, ele está presente em tudo: grupos de trabalho, rodas de amigos, os famosos grupos de família, esportes, etc.

Meme que representa mais de 90% da população brasileira
Mas o que talvez você não saiba é que, por trás do app mais baixado do mundo, existe uma história bem incomum.
Diferente daquelas clássicas de Hollywood — onde um americano de classe média, superdotado, acaba largando a faculdade e criando algo revolucionário — a do WhatsApp é completamente diferente.
Ela começa com um adolescente ucraniano que imigrou para os EUA para fugir de uma ditadura. Passou por dificuldades extremas, chegando a faxinar lojas de conveniência para ajudar a mãe.
Essa é a história de Jan Koum.

Jan Koum nos dias atuais.
E de como ele construiu, com um time minúsculo, uma das maiores plataformas de comunicação da história da internet.
🏚 Da Ucrânia à Califórnia
Jan nasceu nos anos 70, em uma pequena cidade na Ucrânia. Naquela época, o país enfrentava dificuldades extremas.
Sob um regime autoritário, a realidade era dura — especialmente para uma família de classe baixa como a de Jan. Havia escassez de recursos básicos, como, por exemplo, a falta de acesso à água quente em casa — algo impensável para um país do Leste Europeu.
Sua família era de origem semita e, somado à instabilidade política em torno dessa questão, até mesmo os telefones da casa foram grampeados.
Essa combinação os forçou a buscar uma nova vida, deixando para trás sua terra natal.
Aos 14 anos, Jan e sua mãe imigraram para Mountain View, na Califórnia.
Nos EUA, a promessa de uma vida melhor não veio fácil. Sua mãe trabalhava como babá. Jan limpava o chão de lojas de conveniência à noite.
E, ainda assim, muitas vezes dependiam de vale-refeição da assistência social — que Jan retirava em uma instituição do bairro onde moravam.
Não demorou para que Jan aprendesse inglês, demonstrando desde cedo sua alta capacidade intelectual.
Mas nunca deixou de ser um garoto reservado. Seu jeito era característico: direto, frio, avesso a superficialidades — a clássica personalidade de alguém formado no Leste Europeu, em meio a guerras, dificuldades e privações.
💻 Um rebelde, só que digital digital
Foi nesse contexto que Jan começou a se interessar por tecnologia.
Não pelo glamour ou por um sonho de grandeza empreendedora americana, mas sim pela lógica. Pela possibilidade de criar algo real, com suas próprias mãos — e sem depender de ninguém.
Ali, na frente de um computador, todos eram iguais, reduzidos à sua criatividade, intelecto e velocidade de aprendizado.
Ele aprendia programação por meio de livros antigos, alugados em sebos. Assim que terminava um, logo o devolvia e trocava pelo próximo.
Como um verdadeiro autodidata, aos 17 anos já fazia parte de fóruns e comunidades de hackers da época. Realizando alguns projetos não exatamente legais, não demorou até que chamasse a atenção.

Jan Koum com apenas 17 anos de idade.
A Ernst & Young contratou o jovem adolescente, ainda sem formação, como testador de segurança de softwares e redes — acreditando em seu potencial, dado o histórico que havia construído em um curto período.
Com essa nova perspectiva financeira, Jan ingressou na San Jose State University para dar início a uma formação formal, começando o que imaginava ser uma trilha corporativa comum.
Porém, foi lá que conheceu um cliente que mudaria sua vida: o Yahoo.
🛠 Yahoo, Aston e o início de tudo
Durante sua passagem pela Ernst & Young, Jan começou a prestar serviços para o Yahoo — e foi ali que conheceu Brian Acton, que viria a se tornar seu principal parceiro na jornada do WhatsApp.
Eles compartilhavam uma filosofia parecida: avessos ao excesso de burocracia e obcecados por fazer o que realmente importa.
Isso ficou claro quando Brian percebeu que Jan não era o típico consultor — nada de vinhos de presente, jantares caros ou conversas fiadas. Ele se importava em ser melhor em uma única coisa: o trabalho.
Ao mesmo tempo, Jan reconheceu o talento de Acton: um profissional completo, que não entendia apenas de tecnologia, mas também de negócios, pessoas e de como as coisas deveriam ser feitas.

Jan e Brian durante sua jornada de sucesso com WhatsApp
Os dois se conectaram rapidamente. Meses depois, Jan foi contratado como engenheiro de infraestrutura do Yahoo.
Trabalhou lá por 8 anos. Viu a bolha da internet estourar, sobreviveu à era “.com” e, em determinado momento, chegou a se tornar uma peça-chave da empresa.
Durante uma crise no Yahoo, o CEO ligou diretamente para seu telefone pessoal, pedindo que ele fosse ao escritório o mais rápido possível.
— “Onde você está?”, perguntou o executivo.
— “Estou em aula, na faculdade”, respondeu Jan.
— “Você só pode estar de brincadeira”, retrucou o CEO.
Pouco tempo depois, Jan largou a faculdade — e teve uma ascensão rápida dentro da companhia.
Mas, em 2008, algo começou a incomodá-lo.
📉 Ganhar dinheiro não foi o bastante, faltava algo
Jan sentia que sua energia estava sendo gasta para melhorar algo que ele desprezava: a performance de anúncios online.
Aquilo não fazia a vida das pessoas melhor. Para ele, a tecnologia deveria servir às pessoas — não às empresas. E Brian pensava da mesma forma.
Ambos pediram demissão e decidiram tirar um ano sabático.
Viajaram pela América Latina, jogando frisbee como principal passatempo e refletindo sobre o futuro, enquanto conheciam pessoas e culturas que jamais imaginaram.
Tentaram uma vaga no Facebook. Foram rejeitados — entrando para a famosa lista de “rejeitados pelo Facebook”.
Mas foi nesse período que Jan teve um estalo.
📱 A semente do WhatsApp
Ao voltar para a Califórnia, Jan ficou fascinado com seu novo iPhone.
Mais especificamente, com a App Store — um universo de possibilidades que cabia no bolso. Com o advento dos smartphones, o mercado de aplicativos passou a existir de fato.

Dados que representam a “corrida pelo ouro” da AppStore. Em apenas 14 anos, 320 bilhões de doláres foram gerados como receita nesse ecossitema.
Era o começo de uma onda gigantesca, que acabaria tornando várias pessoas multimilionárias. Jan enxergou isso — e viu uma oportunidade clara.
Sua primeira ideia era algo inevitável, que surgiria mais cedo ou mais tarde: a “modernização” da agenda telefônica, agora com status das pessoas em tempo real.
E se existisse um app onde as pessoas pudessem atualizar seu “status atual”?
Algo como: "Estou na academia", "Celular no silencioso", "Sem bateria".
Algo simples, direto, útil.
Essa ideia virou a primeira versão do WhatsApp.
Mesmo sem ter o código pronto, Jan já idealizava um sistema que pudesse se conectar com operadoras do mundo todo.
A versão inicial era cheia de bugs. Mas funcionava. E isso bastou para que os primeiros usuários começassem a aparecer.
Mas o verdadeiro ponto de virada viria logo depois.
🔔 A notificação que mudou tudo
Quando o iPhone liberou a funcionalidade de notificações push, tudo mudou.
Foi uma verdadeira revolução no mundo dos aplicativos. Com os aparelhos se tornando cada vez mais funcionais, era necessário um recurso que permitisse acessar os usuários em meio a uma rotina cada vez mais cheia de informações.

Configuração mais atual do push notification no iOs
Agora, os apps podiam “lembrar” os usuários de interagir, permitindo que notificações push (como conhecemos hoje) fossem enviadas ao longo do dia, seguindo regras de negócio.
Jan aproveitou essa funcionalidade ao máximo — e isso aumentou drasticamente a retenção do WhatsApp. Com essa nova possibilidade, o uso da tecnologia pelos usuários mudou.
Revelou-se um novo comportamento:
As pessoas começaram a usar os status como forma de comunicação.
Era quase como um chat… mas disfarçado.
Jan percebeu isso rapidamente — e lançou o WhatsApp 2.0, agora com funcionalidade de mensagens instantâneas.
O que antes parecia apenas um app de status virou um concorrente direto do SMS.
Mas com uma diferença crucial: era gratuito. Sem anúncios.
Com visual limpo. E vinculado ao número do celular.
🟢A experiência era tão boa que parecia mágica
Sabendo que a tecnologia deveria servir às pessoas, Jan começou a estudar o que seria “ideal” em uma ferramenta de mensageria online.
E o exercício mais simples para isso era analisar a engenharia reversa da opção que existia na época que as pessoas utilizavam.
O que mais irritava as pessoas ao usar o SMS?
Bem, primeiro:
Você nunca tinha certeza se a mensagem havia sido enviada — isso dependia da sua rede. Ao mesmo tempo, era uma verdadeira caixa-preta saber se a mensagem havia sido recebida pela outra pessoa — pois também dependia da rede dela.
Só nessa situação já existia uma incerteza enorme quanto à efetividade da comunicação e à experiência do usuário.
E ainda havia um terceiro ponto: a pessoa já leu a sua mensagem?
O SMS era confuso, cheio de mensagens de empresas, operadoras e notificações aleatórias.
Foi então que Jan criou os famosos “ticks” — que mudaram a forma como as pessoas enxergavam a comunicação digital.
Transformando tudo em algo dinâmico, simples e útil.

Os ticks já muito famosos do WhatsApp
💰 O primeiro investimento e a escalada
Brian — que estava empreendendo em outro projeto — percebeu o potencial do WhatsApp e voltou a trabalhar com Jan.
Sendo o cara da visão sistêmica, conseguiu reunir cinco ex-colegas do Yahoo para investir US$ 250 mil.
Com esse capital, contrataram engenheiros para focar exclusivamente no desenvolvimento da plataforma — refletindo, desde o momento zero, a essência do produto.
Logo após a primeira tração, identificaram outro ponto que gerava desgaste para o usuário:
A existência de soluções de plataforma única, que limitavam a troca de mensagens entre pessoas com sistemas operacionais diferentes.
Na época, todos os apps de mensagem eram fechados a um único sistema, apostando que essa “guerra dos sistemas” teria apenas um vencedor.

Democrático em sua essência, WhatsApp sempre transmitiu isso para seus produtos.
O WhatsApp não.
Iniciaram desde o começo as versões para Android, BlackBerry e outras plataformas.
Ele era, em sua essência, universal e democrático. Materilizando sendo a alma dos dois co-founders.
O crescimento foi tão explosivo que, para conter os usuários bem acima do esperado, colocaram um preço simbólico de US$ 1 por ano de uso.
Mesmo assim, a adesão continou disparando.

De Outubro de 2010 até Abril de 2015, o Whatsapp foi de 0 a 800 milhões de usuários ativos por mês
A filosofia era clara: ouvir o usuário, construir o que ele precisa — e eliminar o que só serve para agradar o ego.
Foi assim que surgiram:
Envio de mídia (fotos, videos, etc) no iPhone
Criação de envio de “Áudio”f ocada para mercados emergentes
Grupos, chamadas, vídeos, comunidades…
Tudo em etapas. Sempre com foco total na experiência.
📄 A venda de US$ 19 bilhões — e o lugar simbólico da assinatura
Em 2014, o Facebook comprou o WhatsApp por US$ 19 bilhões — a maior aquisição da empresa até hoje.
O contrato foi assinado em um lugar inusitado:
A antiga casa de assistência social onde, anos antes, Jan e sua mãe iam buscar vale-refeição.
O ciclo se fechava ali.

Dia da assinatura de contrato de venda para o Facebook - os fundadores na frente da instituição de assitência social que Jan frequentou durante a adolescência,
🎯 O que o WhatsApp nos ensina
Mesmo com milhões na conta, o WhatsApp continuava com uma filosofia enxuta.
Quando alugaram um prédio de três andares, perguntaram a Jan por que não colocavam o logo na porta.
Sua resposta?
“Pra quê? Quem trabalha aqui sabe onde fica. O resto é só alimentar o ego.”
Sem reuniões desnecessárias. Sem jogos de vaidade. Sem distração.
A empresa virou um case de produto centrado no usuário — e uma aula de como simplicidade pode ser mais poderosa do que qualquer campanha milionária.
A história de Jan Koum nos mostra que:
O melhor produto não nasce da pressa, mas do foco absoluto.
Nem toda inovação precisa ser complexa — às vezes, ela só precisa funcionar melhor que todas as outras.
Se você passar 24 horas por dia pensando no seu usuário, vai construir algo que ninguém mais consegue copiar.
Jan não queria criar um app para ganhar dinheiro. Queria fazer o melhor app de mensagens do mundo. E fez.
Depois, queria fazer o melhor app de comunicação. E está fazendo.
Tudo em camadas. Com visão, simplicidade e obsessão por experiência.
E você? Em que parte do seu produto está gastando energia com ego — e não com valor?
Qual funcionalidade está ali para impressionar o mercado, e não para servir seu usuário?
Esse é o case da semana, se você tiver uma recomendação para semana que vem, responda o email que falamos diretamente.
Boa semana e até mais,