- Última Linha
- Posts
- Como a Netflix se Tornou uma Gigante de US$ 100 Bilhões em 20 Anos
Como a Netflix se Tornou uma Gigante de US$ 100 Bilhões em 20 Anos
De uma multa por atraso ao domínio mundial do streaming — os saltos estratégicos, apostas ousadas e lições de crescimento da empresa que reinventou o entretenimento.
Imagine que você faz parte de uma grande empresa americana na década de 90.
Líder absoluta no setor, com demanda perene, e ano após ano, sua receita aumenta e seus lucros sobem.
Nesse momento, visando maximizar ainda mais toda essa operação rentável, seu time tem uma ideia: vamos cobrar multas maiores dos clientes inadimplentes.
E por causa dessa decisão, em julho de 1997 em Santa Cruz, Califórnia, você deu a ideia para uma pessoa que seria seu futuro concorrente e determinaria o fim da sua empresa.
Essa é a história de como Reed Hastings teve a ideia da Netflix, uma das empresas mais famosas do século XXI.
Com uma multa de 40 dólares por atraso de entrega do filme Apollo 13, ele teve a ideia de fundar o aplicativo de streaming revolucionário.

Essa história se tornou parte do folcore da empresa
Bem, essa história sendo desmentida anos depois, Reed afirma que foi um recurso muito útil para explicar em rodadas de investimento e pitch para amigos (logo, temos licença poética para continuar passando para frente, igual o próprio time da Netflix).
Reed Hastings, um desenvolvedor, se juntou com Marc Randolph, um profissional de marketing, e eles fundaram a Netflix em 1997.

Reed Hastings, fundador que ficou na empresa por todos esse anos, ainda é o CEO da companhia.
Contudo, o caminho para chegar ao sucesso foi de longos anos e muitas atribulações.
A tese deles é que a internet iria disruptar toda a sociedade, e o modelo que as pessoas consumiam entretenimento não ficaria de fora.
Mas sabiam que isso demoraria anos para ser possibilitado, tanto em caráter técnico como em questões de comportamento do consumidor.
Até lá, eles apostaram em uma tese que era clara em curto prazo:
Aluguel de filmes pelo correio através da internet.
Mesmo sabendo que eles não seriam uma empresa de distribuição de entretenimento para sempre, eles tinham uma visão clara de que esse caminho é o que daria "maior corpo" para desenvolver a ideia que tinham na cabeça. Tanto em receita quanto em conhecimento.

Um dos primeiros sites da Netflix
Assim, em 1997, a Netflix lança seu primeiro catálogo, com aproximadamente 900 filmes e uma política de 1 semana de aluguel máxima.
De um modelo de negócios baseado em DVDs a uma plataforma global de streaming e produção de conteúdo original, a trajetória da Netflix é uma aula sobre como inovar, assumir riscos e crescer com consistência.
Neste artigo, exploraremos os principais marcos, decisões estratégicas e aprendizados que transformaram a Netflix em uma potência do entretenimento global.
O Que Vamos Explorar
A importância de uma métrica central (North Star) para guiar o crescimento
Como a transição do DVD para o streaming foi mais visionária do que tecnológica
Por que criar conteúdo original foi uma decisão estratégica — e inevitável
1. Crescimento com visão clara: Ser a Melhor
Desde o início, a Netflix entendeu que o crescimento não viria apenas do número de assinantes, mas da profundidade do envolvimento desses usuários com a plataforma.
Se eles seriam a maior empresa de entretenimento na Era da Internet, eles precisavam entender dois pontos:
Operacionalizar a proposta de valor digitalmente de uma maneira fluida, acessível e barata;
Comportamento das pessoas com os filmes baseado em dados e eventos.
O primeiro ponto o processo era óbvio.
Densidade de talento, em um ambiente de alta velocidade e uma estratégia bem aplicada seria o caminho.
Mas e o segundo?
Bem, quando envolve comportamento de cliente, a história começa a ficar bem complexa. É nesse momento que entra a North Star Metric - ou melhor, a métrica norte.
Basicamente, é o dado que você irá acompanhar no curto, médio e longo prazo para entender se seu negócio está rumando para o caminho definido.
Diferente dos canais de TV tradicionais, que eram as grandes referências da época, que mediam seu sucesso por pontos de audiência. Ou seja, número de pessoas que consumiam seu programa.
A métrica escolhida foi totalmente diferente: número de filmes assistidos por usuário.
Essa abordagem mudou tudo.
Enquanto concorrentes otimizavam para audiência total, seguindo uma lógica clara de menor custo e maior retorno, a Netflix focou em garantir que cada usuário tivesse uma experiência extremamente satisfatória e, ainda por cima, contínua — visto que era um modelo de negócios baseado em assinatura.
Para isso, investiram pesado em algoritmos de recomendação (como o Cinematch, o primeiro algoritmo feito em 2006) e personalização de experiência.
Mais do que entregar filmes, a Netflix queria entregar relevância.
Isso não apenas reduziu o churn como aumentou o tempo médio na plataforma, criando um ciclo virtuoso:
mais visualizações → mais dados → melhores recomendações → mais retenção
2. Não hesite em fazer O Salto

Crescimento de inscritos da Netflix na década de 2000
No final de 2006, a Netflix já tinha mais de 6,3 milhões de assinantes, havia feito seu IPO com sucesso e alcançado o lucro, gerando mais de 80 milhões de dólares para os acionistas.
Porém, a visão ainda não havia se concretizado, e eles continuavam na era dos DVDs.
E isso incomodava Reeds.
O momento apareceria logo no ano seguinte, quando o mercado de DVDs, que nunca havia encolhido, registrou uma queda de 4,5% em 2007. Era hora.
Realizando um movimento totalmente incompreendido na época, Reeds direcionou toda a companhia em recursos e atenção, investindo mais de 40 milhões de dólares no desenvolvimento do primeiro streaming: o Watch Now.
Quando foi lançado, o aplicativo funcionava apenas em desktops com sistema operacional Windows e, ainda assim, precisava ser acessado obrigatoriamente pelo Internet Explorer.
A maioria dos consumidores ainda dependia de conexões lentas, o vídeo online era de baixa qualidade e a tecnologia de streaming estava em seus primórdios.
Isso gerou reações como: “A Netflix ficou louca”.
Mesmo assim, a Netflix entendeu que o futuro do entretenimento estava na conveniência. E conveniência significava acesso instantâneo.
O streaming não era apenas uma inovação técnica . Era uma evolução lógica da proposta de valor da empresa: entregar filmes de forma prática, rápida e sem fricções.
A aposta deu certo.
Mesmo com limitações iniciais, o streaming se mostrou atraente o suficiente para crescer rapidamente. Em poucos anos, superou o modelo de DVDs — que a própria Netflix abandonaria completamente na década seguinte.
Foi uma jogada de altíssimo risco: a Netflix decidiu investir 60% dos lucros em uma linha de negócios e produtos inexistentes, desviando atenção do modelo que os havia levado até aquele momento, e que ainda era validado por todo o mercado.
Porém, justamente porque todo mundo achou que não ia funcionar, a Netflix disparou na frente. E o resto é história.
3. A Grande Ideia é sempre a próxima

O primeiro sucesso de outra grande era da Netflix: a produção
Em 2013, a Netflix mudou novamente de patamar. Após disruptar o mercado como distribuidora de entretenimento e, depois disso, como streaming, eles deram o próximo passo.
Com o lançamento de House of Cards, sua primeira grande produção original de sucesso, a empresa deixou de ser apenas uma distribuidora e se tornou um estúdio de conteúdo.
A decisão foi estratégica em vários níveis:
Redução da dependência de estúdios externos e licenças caras, que estavam cada vez mais “crescendo o olho” para cima deles;
Criação de conteúdos exclusivos como diferencial competitivo;
Acúmulo de propriedade intelectual com valor perpétuo.
Mais do que isso, o conteúdo original se tornou o principal motor de aquisição e retenção de usuários.
Séries como Stranger Things, The Crown e produções internacionais como La Casa de Papel provaram que a fórmula funcionava globalmente.

The Crown, Round Six e Stranger Things são alguns dos sucessos históricos da empresa.
Com o sucesso cada vez maior dessa iniciativa, a Netflix pisou no acelerador, formando quase como um compromisso com sua base de fãs de conteúdos recorrentes.
Investindo cada vez mais em conteúdo proprietário, chegou a planejar mais de 700 produções originais em um único ano.
Atualmente, a Netflix está presente em mais de 130 países e tem uma base de assinantes com mais de 250 milhões de usuários ativos.
Com a expansão internacional, a Netflix não apenas aumentou sua base de usuários, mas também diversificou sua audiência e fortaleceu sua marca globalmente.
Hoje produções não inglesas são sucessos mundiais — e a empresa continua a apostar em conteúdo multicultural. Ela realmente é um marco no empreendedorismo.
🎯 O que a Netflix nos ensina sobre visão, risco e consistência
A Netflix nunca foi só uma empresa de tecnologia. Foi, e é, uma empresa de entretenimento COM tecnologia..
Quando todos estavam confortáveis com o aluguel de DVDs, ela já pensava no streaming.
Quando o streaming virou padrão, ela virou estúdio.
E quando estúdios tradicionais começaram a copiar, ela já estava produzindo conteúdo global, em dezenas de idiomas.
Tudo isso sem gritar. Sem pressa. Mas com uma clareza brutal: o futuro não espera. E quem constrói o futuro não pode se apegar ao presente.
A história de Reed Hastings e da Netflix mostra que:
Inovação não nasce do modismo, mas da observação profunda de como as pessoas se comportam.
Crescimento real exige abrir mão do que é seguro, mesmo quando está funcionando.
Visão sem execução é só uma ideia bonita. E execução sem visão é só esforço desperdiçado.
A Netflix não queria só entregar filmes. Queria entregar relevância. E fez isso com dados, coragem e uma obsessão quase incômoda por experiência.
Hoje ela é um ícone global. Amanhã, pode ser outra coisa.
E você? O que está protegendo demais aí dentro — que já devia ter sido reinventado?
Qual produto, métrica ou processo você insiste em manter, só porque deu certo no passado?
Esse foi o case da semana. Se tiver uma sugestão para o próximo, é só responder este e-mail que conversamos sobre.
Boa semana e até a próxima. 🚀
Reply